terça-feira, dezembro 11, 2012

Antes do Baile




Uma Cinderela bem mais ousada
O grande baile prometido pelo Príncipe aconteceria naquela noite. Como sempre, a Madrasta pedira a Cinderela para limpar a casa, enquanto ela e suas filhas passariam a tarde toda e parte da noite fazendo compras e divertindo-se na cidade.
Quando as três saíram, a moça ficou sozinha, tendo por companhia o velho relógio de pêndulo com seu monótono tic tac e as batidas de hora em hora. Era quando estava muito só que sentia mais falta do pai, mas ao mesmo tempo desejava-o longe dali e daquela mulher falsa e fingida. Toda doçura na sua frente, mas ria-se dele na companhia de um de seus amantes quando ele estava longe.
Detestava-a e mais ainda seus homens, principalmente um deles, que vinha com maior frequência, cheio de galanteios para com sua madrasta, mas na realidade interessado na carne mais jovem de suas irmãs.
Elas, mal a mãe virava as costas, ficavam se insinuando para ele, permitindo que as bolinasse. Um dia ele se aproximou dela, cheio de desejo. Cinderela não suportou seu modo grosseiro e seu cheiro de vinho azedo. Mas ele insistia e deseja mais que simples bolinação.
Sua rejeição lhe custou caro. Ele a agrediu com tapa no rosto e em seguida mentiu para sua Madrasta que ela o tentara seduzir. Seu castigou foi severo. Sua Madrasta lhe bateu com a mão espalmada nas nádegas, como se ela fosse uma criança, diante de suas irmãs que ficaram rindo dela.
Depois da humilhação, uma de suas irmãs lhe disse:
Garota, você perdeu uma chance de ouro! Nós deixamos o velhote fazer o que quiser e depois o chantageamos! E ele não é de nada! O negócio dele nem sobe direito!
Mas agora estava sozinha. E para ela a solidão era uma benção. O trabalho normalmente preenchia todo o seu tempo e nunca estava bom e sempre tinha que refazer duas ou três vezes o mesmo serviço. Observando isso, ela percebeu: se ela teria que fazer tudo novamente, por que fazê-lo? Largou imediatamente o balde e a vassoura e rodopiou como se estivesse dançando. Dançando? Lembrou-se então do príncipe e entristeceu. Como gostaria de estar no baile! Havia um boato de que o príncipe escolheria a noiva entre todas que estivessem presente. Sorriu. Seu pai sempre lhe dissera que quem tem imaginação, tem tudo.
Imaginaria então. Esposa do príncipe? Nem pensar. Sabia que era bonita, mas o baile, mesmo em sua imaginação, era algo demais para ela. “Mas, a imaginação não tem limites! Nem físicos, nem temporais, nem econômicos”, teria dito seu pai. E nem morais! Acrescentou por conta própria. Será que seu pai ficaria triste com o que estava prestes a imaginar? Não. Ele talvez tivesse rido e depois lhe aconselharia a não realizar sua fantasia e, cúmplice, piscaria um olho.
Começou a sonhar, então. Fugiria de casa hoje mesmo. Iria até o palácio real e tentaria se empregar como faxineira. Tinha vasta experiência e passaria em qualquer teste. Haveria um exército delas, mas ela chegaria justamente no dia em que mãe do príncipe, num repente de raiva, teria mandado todas elas embora. A dedicação seria muita e ela teria que trabalhar até altas horas da noite naquele palácio enorme.
Um dia muito quente, quando ela segura de que ninguém a veria, alta madrugada, ela se despiria e esfregaria o chão, nua, com uma escova na mão.
E por que não tirar a roupa agora e tornar seu sonho mais real? Elas não viriam tão cedo. Ela hesitou um pouco. O tic tac do relógio parecia sincronizado com o seu respirar cada vez mais profundo, sublinhando seu desejo.
Após longos dois minutos, sua roupa foi quase que arrancada por suas mãos ávidas. Correu olhar-se no espelho grande que havia num dos quartos. Nunca se vira assim nua, de corpo inteiro num espelho. Como ela se sentiu bela! Um homem, mesmo um que fosse um Príncipe teria muitos motivos para desejá-la.
Abraçou-se. Era ela e o Príncipe. Voltou a imaginar-se esfregando o chão, distraída. Ficou de quadro com as nádegas voltadas para o espelho, olhando a imagem que o príncipe veria. Uma tentação...
Ele seria ousado? Não haveria ninguém olhando e, tímido inicialmente passaria a mão em sua bunda. Isso seria sinal de timidez? Riu ao perceber a inconsistência de sua história. Imaginou então ele observando à distância, morto de desejo, lutando contra seus princípios morais antes de fazê-lo e recolhendo mão rapidamente, ao perceber o susto da moça.
Ela acariciou suas nádegas. Sentiu sua pela lisa e aveludada e a firmeza de seus músculos. Pôs o dedo do meio entre as duas metades. Imaginou o dedo dele, pronto para entrar em seu ânus, mas ainda relutante. O desejo contido e pronto para explodir dele, ainda que imaginário, a excitava muito. O que faria se fosse verdade? O desejo dela crescia a cada tic tac do relógio da sala, ainda audível naquele quarto. Ela se ergueria e o beijaria, enquanto procurava libertar-lhe o pênis.
O seu beijo seria nele agora. Sugou seu próprio dedo, imaginando o gosto. Depois levou a sua mão ao delta de Vênus, imaginando a penetração. Não tão imediata. O príncipe seria delicado e ousado ao mesmo tempo, buscando não só obter como dar-lhe o maior prazer possível. Não haveria limites, pois todas as barreiras teriam caído. Não haveria tabu. Ambos gozariam muitas vezes. Terminariam a noite, exaustos, mas ainda desejosos um do outro.
E o baile que se danasse...
De repente, ela percebeu que não estava sozinha. Tomou um susto ao sentir a entrada de alguém sorrateiro naquele aposento. Tentou esconder como pode o seu corpo antes de virar o rosto e ver quem era.
O que viu foi uma mulher pequena de cerca de um palmo de altura com asas nas costas esvoaçando ao seu redor. A sua reação foi de alívio num primeiro momento já que não era o pior caso: a sua madrasta ou uma de suas irmãs. Mas a seguir olhou aquele ser com um misto de curiosidade e medo. Mas não se preocupou em esconder mais seu corpo, já que o ser era uma entidade feminina com pouquíssima roupa.
Não me tema, princesa! – disse a entidade.
Não sou princesa! – respondeu a moça. – Sou apenas uma criada desta casa. E você, quem é?
É princesa sim! Todas nós somos de algum jeito princesas. E estou aqui para provar-lhe isto. Sou sua fada madrinha. Vim aqui lhe ajudar a se descobrir e posso lhe conceder todos os desejos que quiser.
Cinderela esfregou as mãos de satisfação e exclamou:
Puxa vida! Tudo que eu quiser...
Cinderela ficou pensativa um pouco e continuou:
Mas, não sei o que pedir...
A fada olhou-a reprovação e disse:
Há um pouquinho só atrás você sabia exatamente o que queria. E foi o seu desejo que me atraiu.
Nossa! Fadas são tão liberais! A minha madrinha humana não teria aprovado meu querer...
Ela não teve o que desejava na hora certa e deixou que seu sexo azedasse! Parece que ninguém nesta família tem uma sexualidade saudável! Sua madrasta e suas irmãs usam o sexo como moeda de troca. Seu pai parece que prefere viajar a transar com aquela megera. Tomara que ele tenha um amante por aí.
Não fale assim de meu pai! Ele é um bom homem!
Tem razão! E ele é um tesão. Se eu tivesse mais altura, até que eu topava.
Cinderela riu e comentou:
Um metro e meio a mais!
Se eu tivesse um metro e meio a mais e transasse com seu pai, me aceitaria como madrasta?
Claro! Eu acho que meu pai seria mais feliz e não viajaria tanto.
Você acabou de entrar no espírito da coisa. Eu sou a fada madrinha que realiza seus desejos sensuais. E antes que você pense algo errado, não vou transformar o gato num homem gostosão pra você transar com ele.
E o que você faz então? Cresce e transa comigo?
Pronto! Pensou errado. Eu não tenho esse poder. Se eu tivesse até que não seria má ideia. Mas vim aqui para realizar os seus desejos e não os meus. Está pronta?
Eu tô morrendo de tesão.
É um bom começo. Mas vamos por partes. Nua você é uma graça. Mas vestida, você não ganha nem o olhar do cavalariço do príncipe.
Que posso fazer, se não tenho roupas boas?
Nisso eu posso dar um jeito. Que tal um vestido vermelho, com um decote bem generoso, pra deixar seu par na dança babando?
Um gesto da fada e lá estava ela com um belo vestido. Cinderela olhou-se no espelho se admirando e radiante de felicidade.
Espere um pouco, – disse a fada madrinha, fazendo um gesto mágico – vamos ousar um pouco mais, dando-lhe transparência. Afinal ele tem que perceber que você não está usando nada por baixo.
Mas isso não chocaria as pessoas?
É claro. Mas se você não conseguir transar com ninguém, mesmo assim todo mundo vai falar de você. Mas... vamos ser prudentes. Só quem você permitir verá através do vestido. Assim, você acenderá o desejo de quem quiser. Não use este recurso logo no começo, transforme isso num trunfo.
Nossa, me sinto nua com ele!
Está perfeito então. Agora os sapatos. Dignos de você. Não serão de cristal, pois seus pobres pés sofreriam com eles. Mas são igualmente transparentes, ao seu bel desejo. Sabia que tem homem fissurado em pés?
A moça vestiu os sapatos e voltou a olhar-se no espelho.
Nossa, como são confortáveis! Poderia dançar com eles até o sol raiar!
Nada disso! Terá que voltar antes da meia noite!
Nossa! Regras bobas! Até parece meu pai!
Não é uma proibição. É que a meia noite acaba o alcance do encanto.
E o que acontecerá a meia noite?
Este belo vestido e tudo que eu vou lhe dar desaparece. Se você ficar nua no meio do baile aí sim a coisa pega. Em vez de ir pra cama do príncipe, vai pro calabouço!
Então, se eu já estiver na cama com ele, não preciso voltar pra casa!
Esperta a menina. Então boa sorte. Agora o veículo. Uma carruagem puxada por dois cavalos e um cocheiro.
Com um gesto transformou uma abobora na tal da carruagem. Dentro do quarto.
Perfeito! Uma carruagem dentro do quarto de minha madrasta. E agora, como faço? – protestou Cinderela
Desculpe, querida.
Um gesto e a carruagem e os cavalos foram para o jardim.
Aquele cocheiro bonitão é real? – perguntou Cinderela
Por algum acaso está pensando em usá-lo como um quebra galho? Infelizmente, como tudo aqui, é uma ilusão que se desfará quando for meia noite.
Que pena! Mas elas estão pra chegar a qualquer momento! E se elas virem a carruagem?
Não se preocupe. Como eu disse, tudo é ilusão. Por enquanto só você vê aquelas coisas. Pra elas, é só uma abóbora abandonada no jardim, que, aliás, mandarão você catar. Mas de qualquer forma, é bom você se vestir os seus velhos trapos. Não pega bem você pelada ou com um vestido de baile no quarto de sua madrasta.
Um burburinho de gente chegando e seu nome gritado por todas as três ao mesmo tempo.
A fada madrinha disse-lhe:
Rápido! Vou lhe vestir com seus andrajos de sempre. E tirá-la daqui. Vou colocá-la no corredor dos quartos. E corra atender ao chamado.
A Madrasta, como o previsto, reclamou de tudo:
Cinderela! Ainda aqui no corredor de cima? O que você andou fazendo o dia inteiro? Aposto que sonhou acordada com o baile de hoje à noite! E essa abóbora no meio do caminho? Como ele foi parar lá? Quero ela fora do caminho quando eu voltar!
Mesmo sabendo qual seria a resposta, Cinderela ousou perguntar:
Se eu arrumar tudo rapidinho, posso ir ao baile?
A madrasta deu um largo sorriso:
Com que roupa minha menina? Esses trapos?
Mas meu pai trouxe tecidos...
Mal deram pros nossos! Aquele pão duro! Não pensa em mim e nas minhas meninas!
E, subindo as escadas, continuou falando:
Além disso, seu serviço está péssimo. Vai ter que fazer tudo outra vez e não vai lhe sobrar tempo nenhum para ir a um baile.
Normalmente Cinderela teria chorado, mas hoje ela sabia que tinha um proteção extra e apenas fingiu, pois este era o comportamento esperado pela Madrasta.
Assim que a Madrasta foi embora, a fada reapareceu:
Vamos continuar nossa conversa, querida. Eu lhe aviso quando ela estiver voltando para você fingir que está esfregando o chão.
Cinderela sorriu, satisfeita.
Aliás,– continuou a fada – isso me lembra uma coisa: sua fantasia erótica.
Cinderela corou e perguntou:
Foi errado fantasiar daquele jeito?
Sim, mas não pela ousadia sexual e, sim, pela falta dela.
Falta?
Sim! Você ainda se imagina uma faxineira. Se o príncipe lhe comesse daquele jeito, quando passasse o tesão, ele lhe poria pra fora do palácio. Este foi a “bom exemplo” que rei Jorge deu a seu herdeiro. Quanta faxineira do palácio eu ajudei a por fora das garras do velho rei tarado!
Isso me preocupa, madrinha. O príncipe é desse jeito?
Não se sabe. A rainha o colocou longe das mulheres jovens, com medo de que ele fosse como o pai e a coroa fosse parar na cabeça dum neto bastardo. E o rei estava mais preocupado em comer faxineiras do que em dar alguma educação sexual e sentimental a seu filho. Eu imagino, como você, que ele é muito tímido e nem saberia o que fazer com uma mulher nua no colo. Se ele soubesse, ninguém pensaria em promover um baile para achar uma noiva pra ele.
Cinderela corou de novo, riu discretamente e perguntou:
E o que está errado então na minha fantasia?
Simples. Tire da sua cabeça que somente casar com um príncipe vai lhe fazer feliz para sempre. E não se coloque abaixo dele. Você não é uma faxineira! Se é pra fantasiar, deveria ter fantasiado que você era uma rainha de terras distantes, ou que era fugitiva do harém de um sheik árabe que a sequestrara, ou a filha do rei de um exército invasor, sei lá!


Gostei dessa última! Vou ser a filha de um rei prestes a nos invadir! – gritou Cinderela, batendo palmas de excitação. – E meu pai só recolherá seu exército se o príncipe me satisfizer.
Seu pedido é uma ordem, princesa. Neste exato instante está chegando uma mensagem ao palácio real, com uma ameaça de invasão do Rei de Nowhere. Os conselheiros militares do rei levarão um século para descobrir que Nowhere é Lugar Nenhum! E que ele mandará sua única filha como emissária para uma negociação. E a proposta desta negociação só será entregue ao príncipe a sós. Daí pra frente fica por sua conta. E prometo, que mesmo que eu morra de curiosidade, não vou olhar.
E como ele vai saber como que sou eu a princesa?
A mensagem vai dizer que é a mais bonita do baile e estará usando um ousado vestido vermelho. E, para quebrar seu galho, coloco que o acordo deve ser fechado antes da meia noite!
Um ruído chamou sua atenção e ela falou um apelo de urgência:
Apresse-se, finja que está limpando o chão. Madrasta já está vindo!
A mulher desceu as escadas, acompanhada pelas duas filhas, vestidas para o baile. Ao passar por ela cada uma fez um comentário:
Pena que o chão não ficou pronto!
Pena que ela não tem um vestido novo!
Pena que não tem como ir ao baile!
Cinderela se segurou para não rir. Quando a porta se fechou, a fada sussurrou:
Vamos rápido.
O vestido vermelho brilhante, com um pronunciado decote que mostrava quase completamente o belo par de seios de Cinderela, foi colocado magicamente. A fada sabia muito bem o que estava fazendo. Ajustando os últimos detalhes, disse:
Vamos agora treinar a transparência: de nada a tudo. É só pensar. Sugiro que use um pouquinho de transparência na entrada e muita no final do baile.
Cinderela foi variando as nuances até o vestido ficar completamente transparente, quase invisível.
Guarde este gran finale para o quarto – aconselhou a fada. – Vá agora. A carruagem a espera.
Cinderela começou a andar em direção à saída, mas a fada a interrompeu:
Espere!
E, fazendo um gesto mágico, disse:
Antes de partir, aqui vai mais um pouco de magia!
Cinderela olhou para si mesma a procura de algo, mas não encontrou mais nada e perguntou:
O que foi que você me deu?
Apenas um pouco mais de malícia e ousadia – respondeu a madrinha. – São qualidades que você já tem, mas só na imaginação. É preciso as por em prática. Vão existir momentos em que elas serão extremamente necessárias.
Cinderela entrou na carruagem e, durante o caminho para o palácio, ficou pensando na transformação pela qual estava passando. Como havia mudado! De uma moça tímida, maltratada, sem perspectiva, passara a uma princesa poderosa! E de uma menina bem comportada, passara a uma mulher ousada, pronta pra seduzir o príncipe de seu reino! Estaria sonhando? Beliscou-se. Um ai mostrou que não.
A sua entrada no baile foi triunfante. Seguiu a sugestão da madrinha: usou pouca transparência. Ao colocar os pés no salão, aos poucos todos param e a admiram. Os homens de queijo caído e as mulheres com ciúme e raiva.
Não sabia muito que fazer e perguntou ao mestre de cerimônias onde poderia se acomodar. Ele lhe indicou uma das mesas vagas. Mal ela se sentou, se viu cercada de cavalheiros, cheios de gentilezas sob o olhar enfurecido das outras damas abandonadas. Entre elas, viu a madrasta e suas filhas, com ar de desprezo. Aumentou ligeiramente a transparência do vestido mágico e pode sentir o efeito de choque nas três. E ela não tinha nem chegado a um quarto da transparência!
O baile transcorria normalmente. Dançara com muitos cavalheiros e se divertia vendo-os tentar conter seu desejo e mostrar elegância, com galanteios os mais variados. Mas aos poucos foi percebendo uma ausência: o príncipe.
Isso a aborreceu e decidiu sair do salão e ir para o jardim. Custou a se livrar dos cavalheiros insistentes que queriam a todo custo dançar com ela ou acompanhá-la no seu passeio. Afinal era noite e, segundo eles, necessitava de proteção, pois os archotes lá de fora não davam uma boa iluminação.
Andou algum tempo, e encontrou um lugar, um jardim de rosas, com um banco de pedra e começou a pensar em tudo o que estava lhe acontecendo. Lembrou-se das palavras da fada: Tire da sua cabeça que somente casar com um príncipe vai lhe fazer feliz para sempre. Bom, até lembrar-se do príncipe, tudo estava divertido. Por que então esperar por ele? Decidiu continuar se divertindo até a meia noite e esquecer do príncipe. Mas diversão não era só dançar. Podia dar mesmo uma volta e ver as flores e estrelas naquele jardim maravilhoso.
Andou alguns minutos, deliciando-se com cada um dos canteiros todos muito bem organizados por conjunto de flores. Foi quando notou um trecho onde haviam preservado um pedaço do bosque original, com uma mistura de cores e cheiros que ultrapassava a beleza que vira até então. As flores pareciam ter se arranjado da melhor forma possível para lhe agradar
Neste pequeno bosque havia uma clareira e, no seu centro, um banco de pedra. Ao seu redor do banco, um círculo perfeito de cogumelos. No princípio estranhou a perfeição achando ser obra da mão humana. Lembrou-se então do pai, que lhe contara do círculo das fadas, um lugar onde elas se reúnem após a meia noite. Pena. Poderia esperar para vê-las aparecer, mas não teria graça nenhuma ficar pelada no jardim e ter que fugir à pé neste estado. Se bem que alguma delas poderia lhe dar alguma roupa, ponderou, mas não quis se arriscar.
Entrou no círculo e sentou-se no banco. Ficou algum tempo meditando, quando surgiu um belo rapaz. Seus olhares se cruzaram e ela sentiu que um calor percorrendo seu corpo a partir da região pubiana e por fim corando-lhe as faces.
O rapaz entrou no círculo, com um ar sério, diferente dos outros todo-sorridentes cavalheiros, e disse:
Estava à sua procura.
Posso saber por quê? – perguntou a moça, olhando o rapaz de cima a baixo.
Ela viu belo exemplar do sexo masculino, alto, loiro, com traços que denotavam firmeza, apesar de serem suaves, denunciando sua pouca idade. Vestia uma espécie de farda vermelha de gala, como se fosse um militar. Cinderela avaliou que tinha pouco mais de dezoito anos e tentava parecer mais velho, como se tentasse passar autoridade. Talvez não fosse nenhuma autoridade, mas insistia em tentar intimidá-la. Isso ficou acentuado no tom impostado de voz que usava para lhe dirigir a palavra:
Ordens do príncipe.
Cinderela instintivamente aumentou um pouco a transparência do vestido. Perceptivelmente, as pupilas do jovem dilataram-se.
Posso saber por que o príncipe quer me encontrar? – perguntou a moça, num tom bem macio.
O rapaz reposicionou os ombros tentando parecer maior do que era.
Na verdade, não. Tenho apenas ordens de levá-la ao quarto dele.
Cinderela se levantou e se aproximou dele e disse, aumentando um tiquinho o tom de voz:
E você acha que eu não sei?
E, com mais ênfase, continuou:
Pensei que o baile era pra ele arrumar uma esposa e não uma amante!
O rapaz respondeu indignado:
Como ousa pensar isso do nosso príncipe! Não é nada disso!
Cinderela, agora visivelmente zangada, mas sem perder a classe, retrucou:
Pois sim! Se você quiser me levar, terá que ser à força e gritarei a plenos pulmões: o príncipe é brocha!
O rapaz sorriu e disse com ironia:
Não, se estiver amarrada e amordaçada.
Cinderela percebeu que alguma coisa estava mudando e, mantendo a firmeza, e disse com um leve tom de deboche, mas mais macio:
O príncipe tem essa tara, então?
Contrariando suas expectativas, o rapaz riu e disse:
Bem que achei que você seria dura na queda. Olha, com sinceridade, o príncipe não tem tara nenhuma. Aliás, nunca transou, nem com as faxineiras!
Cinderela ficou enfezada e, com as mãos na cintura, indagou:
E o que você tem contra as faxineiras?
Eu? Nada! O rei as adora. Por isso falei delas – respondeu o rapaz, baixando os olhos, evitando fitar os dela.
Cinderela percebeu que havia tomado controle. Aumentou um tiquinho mais a transparência e se aproximou mais colocando seu rosto bem perto do dele.
E seu for uma faxineira disfarçada? – disse ela, acariciando-lhe os cabelos.
O rapaz ruborizou. Antes que ele esboçasse uma resposta, Cinderela aproximou-se colocando seus lábios muito próximos dos dele. Ele tentou recuar, retesando seu corpo e afastando um pouco. Ela sorriu, colocou as mãos em sua nuca e entreabriu os lábios. O rapaz podia sentir a respiração da moça. A dele começou a acompanhar o ritmo da dela. Cinderela pode perceber que ele relaxava e, com a ponta da língua, deu um leve toque nos lábios dele. Delicadamente ele cedeu e permitiu suas carícias. Ao perceber que ele relaxara, Cinderela mordeu levemente o lábio superior do jovem, arrancando um suspiro mais profundo. O beijo foi se tornando mais cálido, aumentando os batimentos do coração de cada um deles, até que ficassem ritmados em sincronia.
A excitação estava crescendo, mas ainda havia algumas barreiras a vencer. A maneira como ele estava agindo denunciava seus medos. Ela sentiu que havia uma ingenuidade muito semelhante à sua, além do senso de dever e do medo de ser descoberto, atrapalhando. O príncipe devia ser um imbecil. Mandara um menino fazer o trabalho de um homem. Pena que seu emissário não tinha uma fada madrinha que pelo menos atenuasse o medo justamente de se entregar ao desejo!
Cinderela ponderou a respeito do comportamento do príncipe. Se ele usara o rapaz para fazer o serviço por ele, bem que merecia que seu emissário fosse muito além do cumprimento do dever! Percebeu que teria que jogar fora o resto do pudor que ainda mantinha e quebrar a resistência do rapaz. Pegou delicadamente a mão dele e levou-a a seus seios.
Inicialmente ele recuou, hesitante. A ingenuidade dele aumentava a excitação dela. A respiração aumentou um pouco seu ritmo. Ele acompanhou. Desta vez, a iniciativa foi dele e, lentamente, vencendo sua hesitação, foi acariciando, invadindo o decote até encontrar seu mamilo. Acariciou-o delicadamente, sentindo em seus dedos a sua forma e firmeza. Cinderela sentiu que sua razão, que até então comandara, estava indo embora. A emoção e o desejo estavam mandando. Decidiu entregar-se a eles. O príncipe mimadinho que se fodesse.
Tocou levemente entre as pernas do rapaz e sentiu seu pênis excitado. Ao ser tocado ele apertou seu seio com um pouco mais de força, mas ainda delicadamente, e deu-lhe um beijo um pouco mais tórrido, penetrando a língua em sua boca, denuncinado suas intenções. A resposta da moça foi abrir a braguilha e libertar o membro do rapaz. Sentiu-o latejante em sua mão e desejou ardentemente sugá-lo. Foi o que fez. O rapaz gemeu de prazer. Ela sempre se imaginara fazendo isso, mas nunca pensara como isso seria tão delicioso. Entregou-se a este prazer e sentiu intensificar o calor na região pubiana. Logo cederia totalmente, bastando um toque do rapaz para ela se livrar do vestido. O rapaz a afastou um pouco e olhou seu rosto. Um outro beijo quente e suas mão começaram a despi-la. Ela retribuiu retirando a camisa e a calça dele. Ambos nus e excitados rolaram pela grama. Ele deu-leu outro beijo desta vez não na sua boca. Seus lábios encontram seu clitóris e o sugaram. Sua língua a penetrou, antecipando o que viria em seguida.
No auge da excitação, ambos ouviram sons. Não passos, mas de asas, como de libélulas. “Fadas!”, pensou Cinderela. “Meu Deus! É meia noite!”
As fadas esvoaçavam em torno deles, rindo e cantando, felizes. Uma delas se aproximou de Cinderela e disse:
Continuem! Estava tão bonito!
O rapaz estava atônito. Várias fadas o cercavam e o olhavam com curiosidade. Uma delas disse:
É raro ver um homem neste jardim. E mais raro ainda um que consegue nos ver!
Cinderela, lamentando ter sido interrompida no melhor da festa, procurou pelo vestido para fugir dali... mas, cadê? Ele havia desaparecido!
Uma das fadas falou:
Desculpe-nos a interrupção, mas é que vocês estavam no nosso espaço. Teríamos expulsado-os, mas vocês estão sob a proteção mágica de uma de nós.


Cinderela, constrangida, tentando esconder seu corpo com as mãos,disse desesperada:
Mas o encantamento acabou. Meu vestido até sumiu!
A fada riu e argumentou:
Você, com este corpo maravilhoso, não precisa de nenhuma roupa.
O rapaz, até então calado de espanto (não é todo dia que se fadas por aí),se manifestou:
Mas depois do que quase fizemos (o “quase” graças a vocês!), corremos riscos!
A fada adotou um ar sério:
Não se preocupem! Nós percebemos o perigo, por isso nós nos fizemos visíveis! Daremos um jeito para que vocês fujam daqui e possam continuar o que estavam fazendo em paz. Quanto à interrupção, nos desculpe. Tínhamos que fazê-lo. A ronda dos guardas está quase chegando a este ponto do bosque. E sentimos que não seria bom eles pegarem vocês em flagrante. Vocês humanos são tão complicados quanto a essa parte da vida!
Dito isso ela, num gesto mágico, vestiu os dois como camponeses e fez aparecer uma carroça puxada por dois cavalos , carregada com feno. A fada, dirigindo-se ao rapaz, disse:
Os guardas do palácio estão encantados e não o reconhecerão. A palha é bem macia e fornece um bom esconderijo. Você conduzirá a carroça e ela se ocultará no feno. Há alguns quilômetros daqui, vocês poderão parar e continuar o que estavam fazendo. O feno é bem melhor que este chão pra isso. Gostaríamos de acompanhá-los e assistir a seus jogos, mas temos que fazer o ritual noturno.
Eles se olharam e ela riu. Ele, mais relaxado, riu também.
Seguiram as instruções das fadas e abandonaram o palácio. Passaram fácil pelos guardas. A uma distância segura, ela saiu do feno e foi à boléia da carruagem. Assim que ela subiu, ele perguntou:
Percebi que você é virgem. Por acaso não estava se guardando pro príncipe, estava?
Ela parou para pensar e respondeu:
Sim... e não! Na realidade, eu só tinha ele como modelo de homem para fantasiar!
E, apalpando-lhe o pênis , continuou:
Não sabia que existiam homens tão gostosos!
Na manhã seguinte, o reino amanheceu em confusão. Arautos por todos os lados e cartazes anunciavam o desaparecimento do príncipe herdeiro, provavelmente sequestrado durante o baile. Testemunhas afirmavam que uma mulher também desaparecera, sendo a provável líder do sequestro, espiã de um reino estrangeiro. A única pista que tinham era um pé de sapato feminino encontrado numa carroça de feno.
Álvaro A. L. Domingues  2012

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